janeiro 14, 2007

O que resta dos avieiros


Ribatejo é lezíria, são toiros e cavalos, campinos e touradas. Mas é também morada de outra gente, vinda de longe, à procura de bom porto e de sustento. São os avieiros, a quem Alves Redol chamou “ciganos do Tejo”

No Inverno, quando o mar de Vieira de Leiria se mostrava pouco generoso, famílias inteiras deslocavam-se em campanha até ao Tejo que, na sua riqueza, lhes oferecia sável, enguia, fataça, robalo. Foram ficando por ali à borda-d’água, nos barcos, improvisadas casas de três divisões: à popa, a oficina, destinada ao trabalho da pesca; ao centro, a cozinha; à proa, sob um toldo armado com estacas de salgueiros, o quarto, que abrigava toda a família.
Se o oceano apenas lhes fornecia a sardinha durante o Verão, o Tejo proporcionava-lhes pesca ao longo de todo o ano e, até porque deslocar toda a descendência nem sempre era acessível à economia familiar, aos poucos foram prolongando as campanhas de Inverno. Contam os livros que, há pouco mais de cinquenta anos, começaram a fixar-se ao longo das margens do Tejo. Casa Branca, Palhota, Escaroupim, Caneiras, Conchoso, Patacão, Lezirão, Muge, Valada, Carregado, Vila Franca, eis alguns dos locais onde os avieiros se foram instalando.
A fixação definitiva trouxe-lhes a vontade e a necessidade de uma habitação permanente e segura. Barracas de lona ou coberturas de caniço sobre estacas serviam para as temporadas da faina mas mostravam-se insuficientes quando estas se prolongavam. No início, bem à forma da lezíria, instalaram-se em palhotas, construídas com o material que os valados lhes ofereciam. Quando as condições económicas o começaram a permitir, com características bem diferentes das casas ribatejanas, nascem as aldeias de construção palafítica, típicas da praia de Vieira de Leiria mas também adaptáveis às cheias do Tejo e à necessidade que o pescador sente de estar perto do barco, seu instrumento de trabalho.
Hoje, já não são esses ”ciganos do Tejo” que encontramos na beira-rio mas os seus filhos e netos. Apesar de tudo, ainda é possível encontrar alguns avieiros, embora as suas características se tenham adaptado à realidade actual do Tejo – a construção de barragens impede a circulação do peixe que passou a procurar outros locais para a desova e as descargas das águas residuais no leito do rio, mesmo quando tratadas, matam e deformam o peixe.
Das suas habitações resta a memória, auxiliada pelo espólio documental e o investimento de algumas câmaras na recuperação e manutenção do que sobreviveu ao abandono e à modernidade.
Fomos à sua procura em Escaroupim, uma daquelas aldeias por onde não se passa mas onde se vai. É ali, à beira Tejo, onde termina a estrada vinda de Salvaterra, um lugarejo aparentemente igual a tantos outros. Casas térreas, nas ruas quase ninguém. Ao longe passeiam-se três ou quatro cães, ouve-se o ruído de água que uma mangueira projecta contra o chão de um quintal.
Entre as casas sobressaem quatro ainda em madeira, uma quinta mais à frente, assentes em colunas de cimento, na sua construção palafítica. É o núcleo museológico da aldeia que nos mostra a construção outrora característica da gente do rio – os quartos, sempre em número de dois, fosse a família grande ou pequena, a sala, a divisão maior, separados por tabiques. Do lado oposto ao dos quartos, a cozinha. Portas, apenas as que davam para a rua porque interiormente eram cortinas, de cores alegres e vistosas, que permitiam alguma privacidade. No sótão, divisão criada sobre os quartos, eram guardados os aparelhos de pesca.
Continuando pelo suave declive do terreno, somos conduzidos a um largo cuja recuperação trouxe à população um agradável local de lazer. Sob os chorões, árvore tão característica da borda d’água, bancos e mesas servem os amantes dos piqueniques ou aqueles que apenas gostam de estar sentados a contemplar ou a ler. À esquerda, também recuperadas e em construção palafítica, meia dúzia de casinhas, distribuídas aos pescadores para guardarem as suas artes e o restaurante, para os visitantes do fim de fim-de-semana a quem a paisagem idílica atrai. Os barcos descansam.
As ruas estão desertas. É o fim da manhã de um dia de semana. No cais palafítico, recém recuperado pela câmara, alguns homens, de muito poucas falas. Dispersam rapidamente, talvez pela aproximação de um estranho por tais paragens, talvez justificado pela hora do almoço que se aproxima. É já no café da terra, após a refeição do meio-dia, que encontramos António Simãozinho e Joaquim Letra. A meio do nome, ambos têm o apelido Botas porque “aqui é difícil de encontrar alguém que, mesmo vagamente, não seja de família. Todos os nossos antepassados vieram de Vieira de Leiria”, justifica Joaquim. Assim é. Contam os anais que mencionam a história da terra, ter ela nascido dessa leva migratória de há mais ou menos cinquenta anos. Contudo, os tempos são outros.
Nesta terra de fim de estrada, onde o padeiro ainda se desloca de carrinha com buzina roufenha que anuncia a sua chegada, o sentido da vida mudou. Os outrora pescadores já não o são para alimentar a prole mas quase apenas para ajudar à economia familiar. A agricultura substituiu-se ao rio no sustento dos homens. Empregos como a construção civil ou a hotelaria, por terras próximas, mostram-se mais fiáveis do que continuar a açoitar o Tejo para dele tirar o peixe que não dá para viver. Não porque o rio se tenha tornado avaro mas porque o escoamento do produto se tornou difícil.
Fataça, barbo, enguia e algum camarão, são as espécies que vão vindo à rede ao longo do ano mas, sobretudo a primeira, já perdeu todo o valor comercial: “há uns tempos, todas as semanas vinha aí um intermediário que comprava toda a fataça para fazer farinha de peixe. Agora já não há ninguém a comprar”, conta António, “se houvesse alguém a fazê-lo, toda esta gente andava aí a pescar.” “Hoje ninguém quer isto a não ser para um petisco de fim de tarde” confirma Joaquim.
E nem no mercado público, antiga forma de escoamento do peixe, se encontram hoje as mulheres, outrora com os ranchos de filhos à ilharga, companheiras inseparáveis do homem na arte da pesca, a comercializar o resultado da faina.
É, aliás, como em tudo na vida, o lucro inerente à actividade que se nota ser um travão à sua continuidade. Só no tempo da enguia o rio retoma algum alento, longe, apesar de tudo, dos tempos áureos dos avieiros. O facto de a irós ser uma espécie mais bem cotada e tradicionalmente procurada nos restaurantes do Ribatejo faz com que aos barcos seja dada maior utilidade do que aquela que têm ao longo de quase todo o ano. Além da restauração há ainda os espanhóis, que se deslocam por terras de beira Tejo à procura da enguia portuguesa. Aqui começam a inverter-se os papéis. Cientes da qualidade do produto que capturam, os pescadores portugueses sobem os seus preços até ao ponto que sabem poder vendê-lo para o país vizinho. Por outro lado, os restaurantes nacionais, porque também querem lucrar o máximo possível, passam a comprar a irós espanhola, no dizer de apreciadores e entendidos, muito aquém do sabor e da textura da portuguesa. Contudo, isso não é da preocupação do pescador, que tem nos meses da enguia a melhor altura do ano para complementar o seu ordenado.
É neste imbróglio comercial, que se pode encontrar o motivo daquilo que, por ser proibido, todos se recusam a falar: o rendimento proveniente da apanha do meixão. Sem terem dono aparente, estendidas no chão a secar, podem ver-se redes quase opacas, de tão apertada que é a sua malha. Olhando para o leito do rio, percebe-se uma estrutura, sustentada por estacas grossas. É ali o viveiro das enguias que nunca hão-de crescer nem nadar ao sabor da corrente do Tejo. Todos dizem desconhecer a quem pertence aquela construção, porém, uma coisa é certa: indiferentes ao facto de estarem a comprometer a existência futura da espécie, há pessoas que ali travam o peixe que conseguiu entrar mas não será capaz de sair a não ser para as mãos dos donos de alguns restaurantes ou para intermediários espanhóis, ao valor de 300 euros o quilo.
Mas, apesar de esta ser uma realidade do Tejo, não tem contudo directamente a ver com a faina dos avieiros, a não ser no prejuízo futuro que lhes irá trazer e, desse, apesar da revolta aparente dos dois homens, talvez pelo receio de chamar as atenções para a actividade ilegal, eles preferem não continuar falar, antes predispondo-se a demonstrar a técnica tradicional e a facilidade com que o peixe vem às redes, aproveitando-o para um petisco de fim de dia.
Com a maré-alta fazem-se ao Tejo. No barco, antigamente homem e mulher, hoje dois homens, armados com uma rede atada a varapaus que irão perfurar as águas até encontrarem terra onde se agarrar. Mesmo ali, quase à borda-d’água, remam em círculo, ao enquanto açoitam o rio para espantar o peixe. Em fuga desnorteada, os cardumes ficam presos no muro feito de malha. É altura de recolher varas e rede. Desemalham o peixe e retornam a águas mais fundas para repetir todo o ritual até os peixes aprenderem a desconfiar da acalmia do rio, o que, seja pela abundância da espécie, seja por demasiada tontura dos animais, não acontece facilmente.
Ao atracar no cais de madeira desemalha-se o último peixe. São visíveis alguns dos estragos provocados pela poluição das águas quando um ou outro surgem deformados. Diz António Simãozinho, “com os despejos da ETAR, e apesar de nos dizerem que os graus de poluição são os mínimos e que aquilo vem tratado, nós não acreditamos nisso porque o peixe continua a aparecer morto, a boiar, sem oxigénio.” Esse é um problema aparentemente sem solução. Pelas análises feitas às descargas, os níveis de poluição estão dentro dos limites legais.
O sol quase se põe. Homens e mulheres começam a regressar, não vindos do lado do rio mas de terra. De madrugada ou no fim-de-semana talvez se façam às águas do rio, porque a sua vida agora é outra.


Vega Mar & Aventuras #24 Dezembro 2006/Janeiro 2007

Sapalsado: a casa das ostras


A Sapalsado acreditou ser possível o desenvolvimento da ostra nas próprias águas do rio. Apostou e o desafio parece estar ganho. O Sado volta a ser conhecido em França, pela sua ostraNo horizonte erguem-se as chaminés das fábricas responsáveis pela maior parte da poluição do estuário do Sado.

Para quem olha, do alto de Faralhão, ali às portas de Setúbal, são salinas que parece ver. Estranha-se talvez a largura exagerada dos passadiços ou os engenhos colocados dentro dos tanques, mas apenas isso. A paisagem em nada foi alterada e a passarada vai andando por ali de acordo com os seus hábitos e épocas do ano. Sem qualquer placa sinalizadora ou forma delimitada, é numa zona de antigas salinas que a Sapalsado, uma empresa dedicada à aquicultura, se inscreve. É neste local, onde a paisagem protegida se alia à exploração das potencialidades produtivas do rio, que os sócios da Tambpiscicultura, Reinaldo Mendonça e António Leal, resolveram fazer uma nova aposta: a recuperação da ostra do Sado.
No contexto histórico a apanha da ostra no estuário do Sado sempre se revestiu de alguma importância, reflectindo-se na economia da região. Em França, principal destino do molusco, a ostra sadina era muito conceituada. A procura era grande e os naturais faziam os possíveis por a satisfazer. Famílias inteiras dedicavam-se à actividade, chegando mesmo a vir gente de fora. Os proventos eram consideráveis e a própria aldeia de Faralhão, onde se situa a Sapalsado, cresceu assente nos lucros da apanha do bivalve. Porém, diz António Leal, “as indústrias vieram, destruíram tudo e nunca mais houve ostra”. No estuário do Sado, só passados 30 anos após o seu desaparecimento a ostra regressa de forma tímida, longe da quantidade de outrora e com uma forma de crescimento que denota a capacidade de defesa do ser vivo: “para se proteger da poluição das águas, a ostra cria casca, em vez de desenvolver o músculo”, informa Reinaldo Mendonça.
Experiente e profundamente conhecedor das coisas do mar, Reinaldo Mendonça acreditou que nas águas dos viveiros da Sapalsado, onde já cresciam robalos, douradas, corvinas e linguados de qualidade superior, poderiam também criar-se com sucesso as ostras do Sado. Fundamentava a sua opinião nos resultados das análises às águas, que a empresa sempre teve o cuidado de mandar fazer. “A qualidade da água que sai dos nossos viveiros é superior à que entra no primeiro tanque”, diz. E os papéis estão lá, para o comprovar. A percentagem de metais pesados existentes na água dos tanques é inferior à permitida por lei.
Decidiram-se então por uma primeira experiência, feita com matéria-prima do próprio estuário. As ostras eram apanhadas no Sado e criadas nos tanques da piscicultura. O resultado, atestado por uma equipa da Faculdade de Ciência e Tecnologia (FCT), da Universidade Nova de Lisboa (UNL), foi positivo. Os bivalves desenvolviam-se com muito menos casca nas águas sistematicamente oxigenadas e naturalmente despoluídas da Sapalsado. Obviamente, também a qualidade do músculo, comestível, era superior. Motivados pelo sucesso, os dois sócios apostaram noutra experiência: adquirir ostras a uma maternidade francesa para as deixar crescer nos seus tanques. Em 2003, foram 50.000 as ostras-bebés, com um milímetro de tamanho, que foram mergulhadas nas águas da Sapalsado. O entusiasmo da altura adivinha-se nas palavras de Leal: “passados 30 dias, elas mediam um centímetro, e algumas mais”. Observaram então que em oito meses os moluscos atingiam o tamanho comercial óptimo, com cerca de 7 centímetros e 80 a 110 gramas, acima do qual perdiam valor. Nos viveiros franceses, as mesmas medidas demoram dois anos a serem alcançadas. Se, como diz Reinaldo Mendonça “não se consegue obrigar a ostra a comer”, a quantidade de nutrientes das águas e a sua temperatura influem nesta aceleração do tempo de crescimento. Por outro lado, quando sujeitas a análises, verificou-se que em algumas ostras o peso do músculo ultrapassava o da casca, situação rara num bivalve. A qualidade também estava acima de quaisquer dúvidas, ultrapassando todas as expectativas: os coliformes fecais detectados estavam abaixo do limite mínimo detectado pela análise. “Analisadas antes da depuração, as nossas ostras têm a mesma qualidade que as do estuário depois de depuradas”, declara Reinaldo Mendonça apontando os resultados dos estudos a umas e a outras. Contudo, apenas pela observação da cor do músculo de cada uma delas, permitimo-nos afirmar que a capturada directamente no estuário, mesmo após limpeza, convida muito menos à sua ingestão.
Testes e análises feitos, era altura de efectuar uma última prova, a do consumidor. A quantidade resultante da primeira produção de ostras foi quase totalmente utilizada na divulgação do produto, em Portugal e em França. Se em Portugal o hábito de comer ostra ainda não se instalou e o êxito ficou mais ou menos confinado aos convivas dos eventos em que a Sapalsado participou, em França, um dos países com maior consumo de ostra e mais exigências a nível da sua qualidade, o impacto foi positivo. Em 2003, a empresa exportou para este país 5 toneladas de bivalve, valor que quintuplicou no ano seguinte. Definitivamente, a aposta estava ganha e a outrora famosa “huître du Sado” voltava a ocupar o seu lugar à mesa dos franceses.
Porém, não se pense que tudo são apostas ganhas na Sapalsado. Situada dentro da Reserva Natural do Estuário do Sado (RNES), são grandes os problemas com que se debatem, provocados pelo atrito com o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) e com a própria RNES. O acesso à energia eléctrica é um deles. Apesar de, ao longo dos 14 hectares que constituem a propriedade, os olhos tropeçarem sistematicamente nos postes de alta tensão provenientes da central eléctrica de Mitrena, até Maio de 2006 a empresa estava impedida de levar a cabo um projecto subterrâneo de distribuição eléctrica. A energia consumida pela Sapalsado é fornecida por dois geradores alimentados por combustível fóssil o que, como afirma António Leal, “sai mais caro e mais poluente.” Diz o empresário: “Estamos a queimar à volta de 5000 litros de gasóleo por mês e, além disso, no caso de necessitarmos de arejar apenas uma parte do viveiro, temos de ligar tudo.” Contudo, os dois sócios não perderam a esperança de verem aprovado o seu projecto de fornecimento de energia eléctrica à piscicultura. Ainda nas palavras de Leal, “penso que agora há ideia de nos autorizarem”.
Outra situação prende-se com o facto de a empresa estar também impedida de construir uma casa destinada ao armazenamento de rações, à verificação veterinária, ao embalamento do peixe e das ostras e, no caso destas últimas, à sua depuração. Se podemos concordar que a edificação na zona poderá ter um impacto ambiental menos positivo se não cumprir regras, o facto é que a solução entretanto encontrada, e aceite pela RNES, apesar de facilmente movível, traz à zona um aspecto degradado. Ao lado da construção que abriga os dois geradores ficam os contentores onde são guardadas as rações e, no seu seguimento, umas precárias traves sustentam uma rede verde, que pretende abrigar o local de pesagem.
Aliando a falta de energia eléctrica à ausência de instalações capazes, todo o esforço que os dois sócios estão a efectuar para valorizar a ostra do Sado pode ficar comprometido. Impossibilitada de ter os seus meios próprios, a Sapalsado tem de recorrer a uma empresa externa, a Barrosinhos, para depuração e embalamento dos seus bivalves. Apesar de modernamente apetrechada, e de não ser questionado o desempenho desta unidade, a realidade é que o selo de certificação que acompanha as ostras é geral para todos os produtos embalados na empresa. Por si só, o facto não constituiria problema de maior se do mesmo local, e com o mesmo selo, não saíssem também ostras criadas no Sado, de qualidade inferior às produzidas pela Sapalsado, mas facilmente confundíveis pela etiqueta que apresentam. Entretanto, apesar de todos os problemas, e sempre apostada na qualidade, a empresa tem como objectivo aumentar o valor das exportações, que pretendem que ascenda às 50 toneladas, além da vontade de pôr Portugal a comer ostras. No imediato, em território nacional, já há clientes a receberem, por mês, uma média de 350 quilos do bivalve.
Acreditando nas potencialidades da aquicultura e da zona onde se inserem, os dois sócios gostariam de ver autorizados para exploração mais alguns hectares das marinhas abandonadas do estuário do Sado. Como diz António Leal, “se estão abandonadas, elas já foram construídas, já foram mexidas pelo homem e o impacto paisagístico, a existir, será mínimo”. Se pensarmos em termos da melhoria da qualidade da água, e tendo como ponto de partida os resultados das análises feitas em relação à Sapalsado, o estuário só teria a ganhar. Contas feitas pelos dois sócios, a exploração de 5% dos 23.500 hectares da zona protegida, seriam suficientes para criar cerca de 600 postos de trabalho directos, que seriam importantes numa região depauperada como é a de Setúbal.

Ciclo de produção da ostra

Importada de maternidades francesas, a ostra é colocada ainda bebé em sacos de rede de acordo com os seus tamanhos. É dentro destes sacos espalmados, assentes sobre estrados metálicos que pousam no fundo dos tanques, que os bivalves se desenvolvem. Ciclicamente, todos os sacos têm de ser retirados, os moluscos, que entretanto se uniram, cuidadosamente separadas por forma a que a sua casca não fique ferida e a quantidade que anteriormente ocupara um único saco passa a dividir-se por três, de perfuração maior, com capacidade para permitir o crescimento da ostra. Esta operação é executada várias vezes ao longo dos oito meses que o bivalve demora a atingir a medida comercial. Nessa altura, e de acordo com as encomendas existentes, duas vezes por semana a ostra é recolhida do viveiro, levada para a depuração durante 24 horas e embalada. Caixas com 5 quilos da iguaria ficam então prontas para a distribuição. Na região de Setúbal, o próprio Reinaldo Mendonça faz a entrega em mão. Fora dessa área, as ostras são confiadas a uma empresa de distribuição que assegura o transporte em boas condições e prazos compatíveis com o grau de exigência do produto e dos seus clientes, entre os quais se contam o Tavares Rico e a Travessa, em Lisboa ou a Champanheria e a Pousada de São Filipe, em Setúbal.


Vega Mar & Aventuras #23 Outubro/Novembro 2006