agosto 31, 2006

marionetas de Lisboa



O quarteirão tem ar de abandono com o corpo da Feira Popular em decomposição de um dos lados e o defunto teatro-estúdio Vasco Santana do outro. Lá para o meio, despercebida, uma porta alta, em ferro. É no número 103-B da Avenida da República, que ficam as instalações das Marionetas de Lisboa.

Trata-se de uma instituição cultural criada por actores, dramaturgos e artistas plásticos que se juntaram com a intenção de estudar a Arte da marioneta, contribuindo para a sua renovação estética. Em simultâneo, assumem-se como uma companhia de reportório, preparada para ser itinerante e com vontade de divulgar a cultura portuguesa.
Como nos explica José Ramalho, director artístico do grupo, ao tentarem alcançar o chamado ”público escolar”, acreditam estar a contribuir para uma sensibilização às actividades artísticas, levando a que os jovens desenvolvam o hábito de consumir e valorizar a Arte como algo que é executado por profissionais.
No espaço cedido pela Câmara Municipal de Lisboa, e do qual, perante a decrépita vizinhança, desconhecem o futuro, espalham-se alguns dos artefactos para uma nova produção, “ A menina que queria ser bobo da Corte”.
Trata-se de um sonho antigo de Cristina Pereira, um espectáculo apenas seu. Só agora se sentiu preparada para o fazer. Descreve o método utilizado no fabrico das marionetas que manuseia delicadamente. “Idealizei o espectáculo e compreendi que o sistema “bunraku” era aquele que mais se lhe apropriava. Estou a construi-las com os materiais mais naturais que me é possível. Mexem-se como se tivessem mecanismos e parafusos mas apenas têm linhas e pano”. Cristina quer que este espectáculo demonstre a sensibilidade feminina e, sobretudo, que de coisas muito despretensiosas também é possível criar o Belo.
Num espectáculo direccionado para todos as idades, no palco vão estar duas actrizes-marionetistas: a própria Cristina Pereira e Magda Moreira. É a elas que, durante quarenta minutos, cabe dar vida às várias marionetas, utilizando a já mencionada técnica “bunraku”, além de bonecos de luva e sombras.
Sozinho ou com crianças, que são sempre uma boa justificação para estas circunstâncias, vale a pena descobrir ou reencontrar a magia das marionetas, das vozes, das luzes e sombras, deste misto entre a realidade humana e a fantasia dos bonecos.
Estreia a 17 de Setembro, no mistério daquela sala com cheiro próprio, protegida das correrias da cidade pela porta alta, o número 103-B da Avenida da República.
Magazine Domingo - 26.09.2004

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