setembro 01, 2006

ver futebol em grande

Ganhou prémios, medalhas, chamou a atenção das grandes marcas do mercado e é fruto da criatividade e persistência de um português. É o ecrã mais conceituado a nível mundial.

É verão, é futebol, é Mundial. Portugal avança nas etapas, a situação é empolgante e, na impossibilidade de uma deslocação à Alemanha, ver cada jogo, vibrar com cada lance é muito mais emotivo em grupo. Já experimentou, não foi? Já foi até àquela esplanada, onde viu o último jogo num ecrã, colocado ali mesmo, à luz do dia. Pois é, viu mas talvez não se tenha interrogado sobre a qualidade da superfície que lhe devolveu as imagens do estádio. Esteve provavelmente a olhar para o melhor ecrã do mundo mas não, não vem do Japão. É bem português e idealizado por um arquitecto de 52 anos.
O Lusoscreen, assim se chama o ecrã que ameaça tomar conta dos bares, locais públicos, e alguns lares, nasceu para consumo próprio. Há cerca de 12 anos Joaquim Candeias, apaixonado pela imagem, decidiu que havia de ver cinema de qualidade em casa sem interditar a sala ao resto da família. Começou então a desenvolver um ecrã com tal luminosidade que lhe permitia ver a projecção sem que a luz existente à volta interferisse na qualidade da imagem. Em 1996 levou a sua criação até à Cebit-Home, em Hannover, onde foi considerado Grande Inovação e, em 1997, foi medalhado a ouro no Salão Mundial de Invenções de Genebra. Trouxe encomendas, entusiasmou-se e com bons motivos: a sua obra projectava 26 vezes mais luz que o comum dos ecrãs e o dobro do seu mais directo seguidor, um americano que se fica pelas 13,2 vezes mais luz que um ecrã normal. No que toca ao contraste, mais uma vez o Lusoscreen bate, agora por K.O., o adversário americano. São 359 vezes mais de contraste, do português, contra as 13,2 vezes para o produto dos Estado Unidos.
Chegada ao conhecimento da Sanyo japonesa a existência deste líder de qualidade, a empresa pôs o seu vice-presidente a voar para Portugal com a intenção de adquirir os direitos de produção. Contudo, as condições do contrato sugerido pelo gigante da tecnologia da imagem não agradaram a Joaquim Candeias que arriscou a produção própria. Encomendas já tinha, o pior era a obtenção das matérias-primas transformadas de acordo com aquilo de que necessitava para produzir em série. Porém, Candeias não baixou os braços. Dois anos após a encomenda, entregou o primeiro ecrã ao cliente alemão que lhe tinha pedido vários. Foi paciente o germânico e persistente o português, que concluiu toda a requisição passados uns tempos.
Pela qualidade inigualável, o próprio ecrã foi fazendo a sua publicidade. Desde a pequena garagem, onde foi iniciada a sua produção, até à fábrica, hoje situada nos Olhos d’Água, em Palmela, passaram-se sete anos e é com comedido orgulho que Joaquim Candeias menciona o facto dos seus ecrãs estarem em locais como a Organização das Nações Unidas ou Festival de Cinema de Locarno. Portugal ainda é o principal consumidor dos Lusoscreen mas a exportação marca também pontos, com a Alemanha e Angola a liderarem a lista de clientes estrangeiros.
Durante um ano normal, a empresa equipa bares e cafés, preocupados em cativar a clientela através da imagem, ou escolas e locais promotores de conferências, além de alugar equipamentos para situações pontuais. Já em anos como 2006, em que o futebol é rei, as vendas e alugueres disparam e a produção torna-se insuficiente, mas o ex-arquitecto tenciona continuar a ampliar as capacidades da fábrica, até porque insiste em dar azo à sua imaginação e passou a desenvolver um sistema de cinema em casa, com o intuito de alcançar aquele público que gosta de aliar a qualidade da projecção à estética da decoração. É o senhor que se segue.
Sábado #115 - 13.07.2006

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